Não se Pode Servir a Deus e a Mamon
Salvação dos Ricos
1. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (S. LUCAS, cap. XVI, v. 13.)
2. Então, aproximou-se dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna?
- Respondeu Jesus: Por que me chamas bom?
Bom, só Deus o é. Se quiseres entrar na vida, guarda os mandamentos.
- Que mandamentos? Retrucou o mancebo.
Disse Jesus:
Não matarás;
Não cometerás adultério;
Não furtarás;
Não darás testemunho falso.
- Honra o teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti mesmo.
O moço lhe replicou:
Tenho guardado todos esses mandamentos desde que cheguei à mocidade.
Que é o que ainda me falta?
-Disse Jesus:
Se quiseres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu.
Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o moço se foi todo tristonho, porque possuía grandes haveres.
- Jesus disse então a seus discípulos:
Digo-vos em verdade que bem difícil é que um rico entre no reino dos céus.
- Ainda uma vez vos digo: É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus (1). (S. MATEUS, cap. XIX, vv. 16 a 24. - S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 18 a 25. - S. MARCOS, cap. X, vv. 17 a 25.)
(1) Esta arrojada figura pode parecer um pouco forçada, pois que não se percebe que relação possa existir entre um camelo e uma agulha.
Acontece, no entanto, que, em hebreu, a mesma palavra serve para designar um camelo e um cabo.
Na tradução, deram-lhe o primeiro desses significados; mas é provável que Jesus a tenha empregado com a outra significação.
É, pelo menos, mais natural.
Preservar-se da Avareza.
3. Então, no meio da turba, um homem lhe disse:
Mestre, dize a meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou.
- Jesus lhe disse:
Ó homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas?
- E acrescentou: Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, seja qual for à abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possua.
Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem cujas terras tinham produzido extraordinariamente - e que se entretinha a pensar consigo mesmo, assim:
Que hei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa encerrar tudo o que vou colher?
-Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os meus celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a minha colheita e todos os meus bens.
- E direi a minha alma: Minha alma tem de reserva muitos bens para longos anos; repousa, come, bebe, goza. Mas, Deus, ao mesmo tempo, disse ao homem:
Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para que servirá o que acumulaste?
É o que acontece àqueles que acumulam tesouros para si próprios e que não é rico diante de Deus. (S. LUCAS, cap. XII, vv. 13 a 21.)
Jesus em Casa de Zaqueu
4. Tendo Jesus entrado em Jericó, passava pela cidade - e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito baixa.
- Por isso, correu á frente da turba e subiu a um sicômoro, para o ver, porquanto ele tinha de passar por ali.
- Chegando a esse lugar, Jesus dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa.
- Zaqueu desceu imediatamente e o recebeu jubiloso.
Vendo isso, todos murmuravam, a dizer: Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. (Veja-se: "Introdução", artigo - Publicanos.)
Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos.
Ao que Jesus lhe disse:
Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido. (S. LUCAS, cap. XIX, vv. 1 a 10.)
Parábola do Mau Rico
5. Havia um homem rico, que vestia púrpura e linho e se tratava magnificamente todos os dias.
- Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de úlceras, que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico; mas, ninguém lhas dava e os cães lhe viam lamber as chagas.
- Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro o inferno.
- Quando se achava nos tormentos, levantou os olhos e via de longe Abraão e Lázaro em seu seio - e, exclamando, disse estas palavras:
Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua, pois sofro horrível tormento nestas chamas.
Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho lembra-te de que recebeste em vida teus bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora esta na consolação e tu nos tormentos.
Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode passar do lugar onde estás para aqui.
Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai, onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não venham também eles para este lugar de tormento.
- Abraão lhe retrucou: Eles têm Moisés e os profetas; que os escutem.
- Não, meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos mortos for ter com eles, farão penitência.
- Respondeu-lhe Abraão: Se eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda mesmo que algum dos mortos ressuscite. (S. LUCAS, cap. XVI, vv. 19 a 31.)
Parábola dos Talentos
6. O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens.
- Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente.
- Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros.
- O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o que recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo.
- Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os chamou a contas. - Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo:
Senhor entregou-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei.
-Respondeu- lhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor.
- O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse:
Senhor entregou-me dois talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei.
- O amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor.
- Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e disse:
Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence.
- O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence.
-Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e dêem-no ao que tem dez talentos; porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 14 a 30.)
Utilidade providencial da riqueza.
Salvação dos Ricos
1. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará a outro, ou se prenderá a um e desprezará o outro. Não podeis servir simultaneamente a Deus e a Mamon. (S. LUCAS, cap. XVI, v. 13.)
2. Então, aproximou-se dele um mancebo e disse: Bom mestre, que bem devo fazer para adquirir a vida eterna?
- Respondeu Jesus: Por que me chamas bom?
Bom, só Deus o é. Se quiseres entrar na vida, guarda os mandamentos.
- Que mandamentos? Retrucou o mancebo.
Disse Jesus:
Não matarás;
Não cometerás adultério;
Não furtarás;
Não darás testemunho falso.
- Honra o teu pai e a tua mãe e ama a teu próximo como a ti mesmo.
O moço lhe replicou:
Tenho guardado todos esses mandamentos desde que cheguei à mocidade.
Que é o que ainda me falta?
-Disse Jesus:
Se quiseres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu.
Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o moço se foi todo tristonho, porque possuía grandes haveres.
- Jesus disse então a seus discípulos:
Digo-vos em verdade que bem difícil é que um rico entre no reino dos céus.
- Ainda uma vez vos digo: É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus (1). (S. MATEUS, cap. XIX, vv. 16 a 24. - S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 18 a 25. - S. MARCOS, cap. X, vv. 17 a 25.)
(1) Esta arrojada figura pode parecer um pouco forçada, pois que não se percebe que relação possa existir entre um camelo e uma agulha.
Acontece, no entanto, que, em hebreu, a mesma palavra serve para designar um camelo e um cabo.
Na tradução, deram-lhe o primeiro desses significados; mas é provável que Jesus a tenha empregado com a outra significação.
É, pelo menos, mais natural.
Preservar-se da Avareza.
3. Então, no meio da turba, um homem lhe disse:
Mestre, dize a meu irmão que divida comigo a herança que nos tocou.
- Jesus lhe disse:
Ó homem! Quem me designou para vos julgar, ou para fazer as vossas partilhas?
- E acrescentou: Tende o cuidado de preservar-vos de toda a avareza, seja qual for à abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possua.
Disse-lhes a seguir esta parábola: Havia um rico homem cujas terras tinham produzido extraordinariamente - e que se entretinha a pensar consigo mesmo, assim:
Que hei de fazer, pois já não tenho lugar onde possa encerrar tudo o que vou colher?
-Aqui está, disse, o que farei: Demolirei os meus celeiros e construirei outros maiores, onde porei toda a minha colheita e todos os meus bens.
- E direi a minha alma: Minha alma tem de reserva muitos bens para longos anos; repousa, come, bebe, goza. Mas, Deus, ao mesmo tempo, disse ao homem:
Que insensato és! Esta noite mesmo tomar-te-ão a alma; para que servirá o que acumulaste?
É o que acontece àqueles que acumulam tesouros para si próprios e que não é rico diante de Deus. (S. LUCAS, cap. XII, vv. 13 a 21.)
Jesus em Casa de Zaqueu
4. Tendo Jesus entrado em Jericó, passava pela cidade - e havia ali um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e muito rico, - o qual, desejoso de ver a Jesus, para conhecê-lo, não o conseguia devido à multidão, por ser ele de estatura muito baixa.
- Por isso, correu á frente da turba e subiu a um sicômoro, para o ver, porquanto ele tinha de passar por ali.
- Chegando a esse lugar, Jesus dirigiu para o alto o olhar e, vendo-o, disse-lhe: Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa.
- Zaqueu desceu imediatamente e o recebeu jubiloso.
Vendo isso, todos murmuravam, a dizer: Ele foi hospedar-se em casa de um homem de má vida. (Veja-se: "Introdução", artigo - Publicanos.)
Entretanto, Zaqueu, pondo-se diante do Senhor, lhe disse: Senhor dou a metade dos meus bens aos pobres e, se causei dano a alguém, seja no que for, indenizo-o com quatro tantos.
Ao que Jesus lhe disse:
Esta casa recebeu hoje a salvação, porque também este é filho de Abraão; visto que o Filho do Homem veio para procurar e salvar o que estava perdido. (S. LUCAS, cap. XIX, vv. 1 a 10.)
Parábola do Mau Rico
5. Havia um homem rico, que vestia púrpura e linho e se tratava magnificamente todos os dias.
- Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado à sua porta, todo coberto de úlceras, que muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico; mas, ninguém lhas dava e os cães lhe viam lamber as chagas.
- Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu e teve por sepulcro o inferno.
- Quando se achava nos tormentos, levantou os olhos e via de longe Abraão e Lázaro em seu seio - e, exclamando, disse estas palavras:
Pai Abraão, tem piedade de mim e manda-me Lázaro, a fim de que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar a língua, pois sofro horrível tormento nestas chamas.
Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho lembra-te de que recebeste em vida teus bens e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora esta na consolação e tu nos tormentos.
Ao demais, existe para sempre um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram passar daqui para aí não o podem, como também ninguém pode passar do lugar onde estás para aqui.
Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão, que o mandes à casa de meu pai, onde tenho cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas, a fim de que não venham também eles para este lugar de tormento.
- Abraão lhe retrucou: Eles têm Moisés e os profetas; que os escutem.
- Não, meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos mortos for ter com eles, farão penitência.
- Respondeu-lhe Abraão: Se eles não ouvem a Moisés, nem aos profetas, também não acreditarão, ainda mesmo que algum dos mortos ressuscite. (S. LUCAS, cap. XVI, vv. 19 a 31.)
Parábola dos Talentos
6. O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus servidores e lhes entregou seus bens.
- Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente.
- Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros.
- O que recebera dois ganhou, do mesmo modo, outros tantos. Mas o que recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo.
- Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os chamou a contas. - Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo:
Senhor entregou-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei.
-Respondeu- lhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor.
- O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe disse:
Senhor entregou-me dois talentos; aqui estão, além desses, dois outros que ganhei.
- O amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor.
- Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e disse:
Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; - por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence.
- O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não semeei e que colho onde nada pus, devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence.
-Tirem-lhe, pois, o talento que está com ele e dêem-no ao que tem dez talentos; porquanto, dar-se-á a todos os que já têm e esses ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter; e seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (S. MATEUS, cap. XXV, vv. 14 a 30.)
Utilidade providencial da riqueza.
Provas da riqueza e da miséria.
7. Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna à razão.
Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria.
É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual.
E o laço mais forte que prende o homem a Terra e lhe desvia do céu os pensamentos.
Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão.
Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir-se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a propósito e com discernimento.
Quando Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna:
"Desfaz de todos os teus bens e segue-me", não pretendeu, decerto, estabelecer como princípio absoluto que cada um deva despojar-se do que possui e que a salvação só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação.
Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque observara certos mandamentos e, no entanto, recusava-se à idéia de abandonar os bens de que era dono.
Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de adquiri-la com sacrifício.
O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento.
Ele podia, sem dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar o seu pai e a sua mãe.
Mas, não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava até a abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio:
"Fora da caridade não há salvação".
A conseqüência dessas palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza por prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na Terra; seria ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear; conseqüência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.
Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus.
Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade.
E a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre.
Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem.
Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.
Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta.
Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta.
Para alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a produção.
Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la fora.
Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade.
A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações.
Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de executá-los com maior segurança e rapidez.
Mas, para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fez criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência.
A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que ele concentra primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.
Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não maiores trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas.
Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso.
7. Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna à razão.
Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria.
É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual.
E o laço mais forte que prende o homem a Terra e lhe desvia do céu os pensamentos.
Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão.
Mas, do fato de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir-se, como certos venenos podem restituir a saúde, se empregados a propósito e com discernimento.
Quando Jesus disse ao moço que o inquiria sobre os meios de ganhar a vida eterna:
"Desfaz de todos os teus bens e segue-me", não pretendeu, decerto, estabelecer como princípio absoluto que cada um deva despojar-se do que possui e que a salvação só a esse preço se obtém; mas, apenas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação.
Aquele moço, com efeito, se julgava quite porque observara certos mandamentos e, no entanto, recusava-se à idéia de abandonar os bens de que era dono.
Seu desejo de obter a vida eterna não ia até ao extremo de adquiri-la com sacrifício.
O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, destinada a pôr a nu o fundo do seu pensamento.
Ele podia, sem dúvida, ser um homem perfeitamente honesto na opinião do mundo, não causar dano a ninguém, não maldizer do próximo, não ser vão, nem orgulhoso, honrar o seu pai e a sua mãe.
Mas, não tinha a verdadeira caridade; sua virtude não chegava até a abnegação. Isso o que Jesus quis demonstrar. Fazia uma aplicação do princípio:
"Fora da caridade não há salvação".
A conseqüência dessas palavras, em sua acepção rigorosa, seria a abolição da riqueza por prejudicial à felicidade futura e como causa de uma imensidade de males na Terra; seria ao demais, a condenação do trabalho que a pode granjear; conseqüência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é lei de Deus.
Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus.
Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade.
E a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terrestre.
Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem.
Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.
Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta.
Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta.
Para alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a produção.
Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la fora.
Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade.
A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações.
Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de executá-los com maior segurança e rapidez.
Mas, para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fez criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência.
A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que ele concentra primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.
Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não maiores trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas.
Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso.
Desigualdade das Riquezas
8. A desigualdade das riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual.
A primeira questão que se apresenta é esta: Por que não são igualmente ricos todos os homens?
Não o são por uma razão muito simples: por não serem igualmente inteligentes ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar.
E, alias ponto matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que, supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis.
Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.
Admitido isso, pergunta-se por que Deus a concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos.
Ainda aí está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus.
Dando-lhe o livre-arbítrio, quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade.
Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais.
A riqueza é um meio de experimentá-lo moralmente.
Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que incessantemente a desloca.
Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela.
Sendo, no entanto, materialmente impossível que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria comprometido, cada um a possui por sua vez.
Assim, um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a tem, talvez não na tenha amanhã.
Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é a cada um prescreve trabalhar a seu turno.
A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.
Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e pergunta-se:
Deus será justo, dando-as a tais criaturas?
E exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, não tivermos em vista apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências, veremos que tudo se equilibra com justiça.
Carece, pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem.
Se abusarem, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal.
As leis podem de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada.
A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.
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