quarta-feira, 21 de março de 2012

A Caminho do Amor





A caminho do amor

“Desculpismo sempre foi a porta de escape dos que abandonaram as próprias obrigações.” (2)

O chamamento divino tem sido constante ao longo dos milênios para toda a Humanidade, que, no entanto, o tem relegado a segundo plano, em favor dos interesses materiais.

- “Estou muito jovem ainda”...

- “Sou velho demais”...

- “Tenho muitos compromissos e não posso atender ao convite”...

- “A casa toma muito meu tempo”...

Deus chama as criaturas humanas para a posse dos bens espirituais, mas aqueles que são convidados, e não aceitam, não podem ser alimentados espiritualmente, não porque o alimento lhes seja negado, mas porque não estão interessados em recebê-lo. Seus focos de atenção estão voltados para as satisfações de ordem material. As evasivas para o não atendimento ao convite são tão veementes e tão convincentes, que ouvintes menos atentos ficam convencidos de que estão diante de pessoas sofredoras, e tão incapazes, que acabam por ajudá-las nessa fuga. Todavia, enganando a si próprias, terminam um dia por acordar envoltas em comprometimentos ruinosos, consequência de suas leviandades e, constrangidas, rogam a oportunidade de novas reencarnações.

O ser humano, naturalmente, volta-se para a busca da felicidade, da realização pessoal. É como uma intuição que tem do próprio futuro, ainda que de forma nebulosa. Mesmo sem ter essa certeza, ele a procura, como algo pleno, ignorando que, na verdade, essa é a nossa destinação, como Espíritos imortais que somos.

O fato é que não temos, ainda, a perfeita compreensão da nossa identidade. Não sabemos quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Ignoramos a nossa condição de filhos de Deus, de seres espirituais, portadores de dons, de faculdades, de forças latentes que, aos poucos, vamos desenvolvendo através do próprio esforço. Seres portadores da própria essência divina que, transitoriamente, sob vestes carnais – apenas de passagem pelo mundo –, buscam enriquecer-se com novas experiências, que o campo material oferece, favorecendo nossa condição.

Morrer é viajar, e o que levamos é somente o que somos

Entretanto, nossa atenção, sempre absorvida pelos interesses materiais, ofusca a visão da nossa vida infinita, e permanecemos iludidos, julgando que a felicidade está na satisfação dos nossos desejos imediatos; imaginando que podemos ser felizes, apenas por possuirmos isto ou aquilo; por desfrutarmos desta ou aquela posição social; por determos algum tipo de poder transitório, esquecidos da nossa realidade espiritual.

Se as necessidades materiais – transitórias – são importantes por estarmos revestidos de um corpo material, muito mais importantes são as espirituais, tendo em vista que são eternas, pois prosseguiremos vivendo, ainda mais intensamente, após a passagem pelo túmulo.

Diz-nos um Instrutor Espiritual que morrer é viajar e o que levamos é somente o que somos. Assim, todo conhecimento adquirido, todas as virtudes e dons desenvolvidos, em nossa vida material, são patrimônios eternos do Espírito. É o tesouro que não se perde, que não se tem roubado e que não pode ser devorado pelas traças. Jesus ensinou-nos a buscar, antes, o Reino de Deus e Sua Justiça, porque tudo o mais nos seria dado por acréscimo de Sua Misericórdia. Por essa razão, todo conhecimento, todas as virtudes e todas as qualidades morais representam poder espiritual, que se reflete, imediatamente, na vida material, transformando a nossa realidade por completo, em uma vida mais bela, porque em harmonia com as Leis Divinas.

E o caminho para transformarmos a nossa realidade é o caminho do amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Em síntese, é a prática do Bem.

O sentimento religioso que possuímos, embora não tenhamos, muitas vezes, uma religião – como a definimos –, deixa-nos em uma situação privilegiada para atendermos ao chamamento divino.

O berço é somente o início de uma viagem laboriosa

Em se tratando do espírita, particularmente, muito mais isso é verdadeiro, pois contamos com o conhecimento da vida espiritual e com a consciência de que não há fatalidade absoluta nos acontecimentos que nos cercam, porque sabemos que não somos marionetes, uma vez que somos dotados de livre-arbítrio, razão e inteligência.

Já compreendemos, perfeitamente, o que significa o ensinamento evangélico de que “a cada um será dado segundo suas obras”, endossado pelos Espíritos Superiores como Lei de Causa e Efeito e confirmado pela Ciência Humana como Lei de Ação e Reação, lei universal a nos chamar à responsabilidade dos nossos atos. Não desconhecemos a afirmativa de Jesus de que, se semearmos o bem, o bem será nossa colheita. Temos, portanto, liberdade para agir e modificar, a qualquer tempo, o nosso caminhar.

Diante dos conhecimentos com que a Doutrina Espírita nos brinda – através de estudos nobremente conduzidos – não vemos mais a ideia da reencarnação como dogma religioso ancestral, mas como um fato comprovado, cientificamente, pela Psicologia Transpessoal; temos o conhecimento de que somos Espíritos imortais; que o berço é somente o início de uma viagem laboriosa para a alma necessitada de experiência; que continuaremos vivos após o cumprimento da tarefa planetária, que nos compete realizar por Misericórdia Divina; que é permanente a comunicação e a solidariedade entre os dois planos da Vida; que quando oramos, mentalizando os entes queridos que estão na dimensão espiritual, nós os beneficiamos, os fortalecemos com nossa mensagem de amor e paz, na mesma medida em que somos amparados por eles, muitas vezes, sem suspeitarmos disso.

A luz que o Espiritismo coloca em nossas mentes faz com que não tenhamos mais dúvidas acerca da existência de muitas moradas na casa do Pai – sejam estados físicos ou conscienciais.

Que estamos fazendo com o conhecimento adquirido?

Após conhecermos as obras da codificação da Doutrina Espírita, através das mensagens de O Evangelho segundo o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Céu e O Inferno, O Livro dos Médiuns e A Gênese, e de outras obras contemporâneas, psicografados por médiuns sérios e abnegados, e de estudiosos honestos em suas colocações, dando-nos informações detalhadas dos diversos mundos, que se estendem ao infinito, em perfeito acordo com as descobertas científicas de físicos, astrônomos, que nos revelam um Universo em expansão, o planeta Terra – que é hoje o nosso mundo – descortina-se como um minúsculo ponto no espaço, situado na periferia de uma modestíssima galáxia, a Via Láctea, entre bilhões de outras galáxias.

Com todo esse conhecimento, por que duvidarmos, ainda, da nossa imortalidade? Por que continuarmos, excessivamente, apegados aos interesses materiais que terminam por nos infelicitar, quando não usados com bom senso e caridade? Será que, com todas essas informações, já temos condição de responder a questões que nos acompanham a caminhada, como por exemplo: “Somos plenamente felizes?”, “Somos criaturas realizadas?”, “Como estamos vivendo?”, “O que estamos fazendo com o conhecimento adquirido, em nosso benefício e daqueles que foram colocados sob nossos cuidados para progredirem?”.

É importante refletirmos sobre a luta dos homens para solucionar os problemas sociais da pobreza, do vício, do crime, das enfermidades, por ser uma luta inglória, na medida em que vamos colecionando fracassos incontáveis, porque até então tem sido alicerçada sobre conceitos materialistas.

O homem, ignorando sua realidade espiritual, não se deu conta de que todos esses problemas têm sua origem no Espírito – orgulho, egoísmo, vaidade, ambição, avareza, possessivismo, para citar apenas alguns – e, portanto, somente pelo Espírito esses males poderão ser vencidos.

Todos temos condições de assumir tarefas no Bem

Emmanuel diz-nos que hoje estamos passando por muitas dificuldades, mas se não mais ignorarmos que a nossa realidade, hoje, é a consequência dos nossos atos de ontem – por força da Lei de Causa e Efeito, que atua mecanicamente em todo o Universo –, não podemos esquecer que temos hoje condições para criar, pela força da mesma Lei Divina, um novo destino para nós.

É fundamental termos a consciência da possibilidade de recomeçar, sempre, desde que, realmente, assim desejarmos, pois cada dia que amanhece é uma nova oportunidade que a vida nos oferece. Mas é importante sermos firmes nesse recomeço. É imprescindível não cultivarmos lembranças amargas, desfazendo-nos do pessimismo, dos enganos anteriores, das aflições que nos impedem de progredir.

Todos temos condições de assumir tarefas no Bem. As quedas que vivemos no passado e que muitas vezes nos colocam na posição de criaturas menos dignas – assim pensamos –, na qual os remorsos, sentimentos de culpa e complexos de inferioridade nos fazem estagnar num tempo ido, engessam nossas ações para o avanço em direção ao futuro.

O alívio que buscamos para a nossa libertação, encontramo-lo em Jesus, em Seu chamado para que fôssemos a Ele, atribulados que estamos, pois Ele nos aliviará.

Aceitando o convite, é inevitável o nosso encontro com o consolo, a esperança, a resignação e, mais que tudo isso, o entendimento das nossas potencialidades para caminharmos, com segurança, sobre os próprios pés, rumo a um porvir muito mais feliz.

Todos nós, sem exceção, temos ainda limitações morais para caminharmos sozinhos. Entretanto, ao toque do Evangelho em nossos corações, eis-nos transformados para o Bem, que ainda hoje podemos realizar, desfazendo o mal do passado, porque o amor cobre a multidão de pecados. E com calma, paciência e orientação segura, que os ensinamentos de Jesus nos propiciam, construiremos uma vida superior compatível com a nossa condição de filhos de Deus.

Leda Maria Flaborea